JOSÉ RODRIGUES

20130728-JRodriguesJosé Rodrigues nasceu em Santos-SP, no dia 22 de novembro de 1937. De família católica e ascendência espanhola, tomou contato com o Espiritismo na adolescência, integrando-se à Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, do Centro Espírita Allan Kardec, em Santos, onde se destacou como dirigente e expositor. Seu interesse pelo jornalismo surgiu nessa época, quando passou a editar o periódico Espiritismo, que posteriormente daria origem ao conhecido Espiritismo e Unificação (1960), fruto da fusão com outro periódico, Mensageiro da União, editado pela União Municipal Espírita de Santos.

Formado em economia, foi trabalhador portuário e aprendeu jornalismo na prática, tornando-se um dos mais notáveis profissionais da Baixada Santista e do país. Era uma das maiores autoridades em jornalismo cafeeiro e assuntos portuários. Ingressou no jornalismo em 1969, ao ser contratado pelo diário santista A Tribuna, onde trabalhou por quase 15 anos. Fundou a editoria de economia e manteve coluna diária sobre assuntos econômicos, tarefas que dividia com intensa atividade no movimento espírita.

Nos anos de 1970, também colaborou com o lendário periódico alternativo O Jacaré, de Santos, de linha editorial ácida e irreverente, publicando crônicas hilariantes com temática jocosa. Assinava “Irmão Zero”. Daí o Zero, codinome usado em seu endereço de e-mail.

Conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo em 1971, com a reportagem Salário Mínimo. Todos os seus colegas de trabalho sabiam que ele era espírita, não somente pelas atividades doutrinárias, mas principalmente pelo seu comportamento íntegro, leal e fraterno. Sem ele saber, os tribuneiros chamavam-no, carinhosamente, de “Zé do Além”.

Em 1983, saiu de A Tribuna e passou a trabalhar na Associação Comercial de Santos (ACS), como assessor de imprensa e comunicação. Realizou várias coberturas jornalísticas do Seminário do Café e reuniões da OIC – Organização Internacional do Café. Provavelmente a maior autoridade em jornalismo cafeeiro no país, devido ao seu amplo conhecimento Rodrigues escreveu para revistas e jornais segmentados como o DCI, a Gazeta Mercantil, a própria Revista do Café do CCCRJ, a revista Exame, dentre outras publicações.

Posteriormente, desligou-se da ACS e assumiu a Assessoria de Comunicação Social do Instituto Brasileiro de Café (IBC), em Brasília-DF. Braço direito do presidente do IBC na época, Jório Dauster, negociou pessoalmente acordos fundamentais para a economia do país e esteve presente em importantes negociações do setor cafeeiro, no comércio nacional e internacional.

Em 1989, assumiu o cargo de coordenador para Assuntos Portuários no governo Telma de Souza, função que também exerceu na gestão do prefeito David Capistrano Filho. A fim de que a Administração Municipal pudesse ter assento no CAP – Conselho de Administração Portuária, doou à Prefeitura de Santos ações de sua propriedade da Codesp – Companhia Docas do Estado de São Paulo.

Precursor da luta para que cidades portuárias participassem da gestão do porto, tornou-seum dos principais articuladores da proposta tripartite de administração portuária, inserida na Lei dos Portos e consequente inserção dos municípios na questão portuária.

Participou ativamente em todas as campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, na elaboração de projetos e programas de governo. Foi um dos principais consultores do Sindicato de Trabalhadores Portuários, na defesa da renda e manutenção do emprego. Trabalhou por 10 anos como correspondente do diário Valor Econômico, especializado em assuntos econômicos, função que exerceu até a súbita desencarnação.

Atuou durante décadas no Lar Veneranda, entidade assistencial dirigida por Jaci Regis, seu companheiro inseparável ao tempo em que era redator do periódico santistaEspiritismo e Unificação e presidente da Dicesp – Divulgação Cultural Espírita. Em 1987, fez parte do conselho de redação do jornal espírita Abertura, sucessor doEspiritismo e Unificação.

De personalidade sensível e delicada, Rodrigues aos poucos foi se afastando do movimento espírita em função de conflitos surgidos na década de 1980, com a chamada questão religiosa, contenda que muito abalou sua saúde. Passou a colaborar na imprensa espírita eventualmente.

A retomada das atividades espíritas se deu no início do milênio, em 2001, com o site Pense – Pensamento Social Espírita, em parceria com Eugenio Lara e a consequente divulgação da obra do argentino Manuel S. Porteiro, por ele traduzida. A leitura deste grande pensador espírita, que Rodrigues tanto admirava, contribuiu decisivamente na decisão de abandonar seu perfil liberal e se aproximar de concepções mais humanistas e socialistas. Deixou de ser eleitor do PSDB/PMDB para se tornar militante do PT.

Possuía o dom da palavra escrita. Seu texto era impecável: sintético, fluente e escorreito, elegante e substancioso, um dos melhores textos da história da imprensa espírita brasileira.

Também era poeta, fato que muitos desconhecem. Sensibilizado com a tragédia em Cubatão, em um incêndio criminoso na Vila Socó, em 1984, escreveu o livro de poesias Vila Socó, a Tragédia Programada, em parceria com o ilustrador Lauro Freire. O livro foi adaptado para o teatro em comovente montagem.

Em 1994, junto com a esposa Myrian de Domênico, fundou a ONG (organização não-governamental) Ação de Recuperação Social (ARS). A entidade oferece assistência social e educativa à comunidade carente do bairro santista do Saboó, com acompanhamento psicológico, cursos profissionalizantes, aulas de reforço escolar, alfabetização de adultos, assistência jurídica, distribuição de alimentos, dentre tantos outros serviços. Com o tempo, a ARS tornou-se modelo de assistência social na Baixada Santista.

Mesmo afastado do movimento espírita, nunca deixou de coordenar, ao lado da esposa Myrian, as reuniões de apoio espiritual no CE Allan Kardec. Entusiasta da Confederação Espírita Pan-americana (CEPA), pouco antes de desencarnar participou ativamente da comissão organizadora do Congresso da CEPA (Santos-2012), contribuindo efetivamente na elaboração do temário.

Nos últimos meses, antes da desencarnação, após animadas conversas informais, Rodrigues se convenceu da necessidade de lançar suas ideias em livro, especialmente seu último ensaio A Crise da Ambição, publicado no site Pense. Estava tão entusiasmado que apresentou proposta de edição ao jornal Valor Econômico, onde escreveu vários artigos espíritas. O projeto, infelizmente, foi interrompido pelo seu inesperado passamento. Contudo, as centenas de artigos e ensaios espíritas que produziu constituem grande acervo de ideias relacionadas às questões sociais sob a ótica espírita.

Rodrigues era um dos poucos pensadores espíritas preocupados com a temática econômica e sociológica no Espiritismo. Sempre atento às transformações de seu tempo, pioneiro no uso da internet, foi um lídimo representante de uma geração desbravadora no trato de temas sociais.

Desencarnou em 10 de fevereiro de 2010, aos 72 anos, vítima de complicações pós-operatórias, quando se submeteu a uma delicada cirurgia para extração de tumor no pâncreas. No dia seguinte, foi cremado no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, com a presença de centenas de pessoas, amigos, familiares, colegas de trabalho e personalidades da região.

Casado por 47 anos com Myrian de Domênico Rodrigues, deixou os filhos Patrícia, Lívia, Flávia, José Tarcísio, José Roberto, netos e uma legião de amigos e admiradores. Foi realmente uma grande alma: simples, carinhoso, educado, gentil e verdadeiramente fraterno, solidário. Fraternidade e solidariedade não foram em sua vida meras palavras ou figuras de retórica. Constituíram-se em ação empreendedora e atitude renovadora, legando-nos um exemplo de iluminação, de paz e concórdia.